A professora, o aluno e o caderno de Redação

Ele nasceu em uma cidadezinha do interior do Mato Grosso do Sul e durante algum tempo de sua trajetória escolar foi apaixonado pelo universo da biologia. Seu sonho, naquela época, era ter um microscópio. Algo muito distante da ideia de ser autor de livros. No entanto, através do incentivo de seus professores, Denis Cruz se encontrou no mundo das letras. Em nossa conversa, o autor de livros voltados ao público infanto-juvenil e publicados pela Casa Publicadora Brasileira , conta sua história como escritor e avalia a influência da Escola Adventista em sua formação. Confira!

 

EDUCAÇÃO ADVENTISTA: Muitos te conhecem através dos livros que você escreveu, mas conte um pouquinho como foi a sua fase escolar?

Denis Cruz: Sou de uma cidade pequena, do interior do Mato Grosso do Sul e, na infância e adolescência, passei por diversas escolas. Foi uma fase muito bacana, de muita aprendizagem. Em meu ensino fundamental eu era apaixonado por biologia e meu sonho era ter um microscópio. Com o passar do tempo, acabei me aproximando da área das humanidades e descobri nas Letras um refúgio para conhecer mais sobre tudo e expressar um pouco do que eu pensava. Deparei-me com a Educação Adventista no ensino médio, em 1992, quando fui aluno interno do Instituto Adventista Paranaense (o IAP). Ali conheci pessoas incríveis e tive meu primeiro contato real com Jesus. Em 1993 fui batizado na Igreja do IAP.

EDUCAÇÃO ADVENTISTA:   Ser escritor sempre foi um sonho? Como nasceu o amor pela escrita?

Denis Cruz: Na verdade, não! Eu não tinha essa pretensão quando era estudante. Confesso, porém, que amava as aulas de redação no Ensino Médio e Fundamental e era muito satisfatório quando as redações eram lidas para toda turma ou quando voltavam com as correções do professor. Eu gostava de ser lido e avaliado. Além disso, eu lia com muita atenção cada correção que o professor fazia nas redações. Há um momento, em especial, que me marcou na escola: minha professora do 7º ano era uma pessoa que irradiava motivação para que escrevêssemos redações. No fim de cada bimestre ela recolhia meu caderno de textos e passava o recesso ou férias com ele. Um dia perguntei por que meu caderno era o único que ela levava para casa e a resposta foi mais ou menos assim: “Eu levo para ler para meus filhos e para mostrar para familiares que me visitam. Eu acho engraçado o que você escreve!”

EDUCAÇÃO ADVENTISTA: De que maneira a Escola Adventista contribuiu para o seu desenvolvimento como escritor?

Denis Cruz: Creio que devo à Educação Adventista a base teórica para a boa escrita, tanto na forma como no conteúdo. Há muita coisa boa que vivi dentro do internato que compõe meus textos. Há sentimentos, situações e reflexões que vivi de verdade, ou convivi com amigos que passavam por momentos semelhantes. Esse mundo que me cercou passou a fazer parte de mim e, a partir disso, se refletem naquilo que escrevo.

EDUCAÇÃO ADVENTISTA: Alguma lembrança da escola que te marcou e te inspirou a ser escritor?

Denis Cruz: Sempre gostei de escrever, mas creio que há um momento marcante que me direcionou ao ato de contar histórias. Antes de estudar no IAP, eu não conhecia praticamente nada sobre a Bíblia, religiosidade ou Jesus. Meu primeiro contato com as histórias de Gênesis foi na aula de ensino religioso, em 1992. Meu professor era incrível! Ele mandava que fechássemos os livros e cadernos e contava as histórias bíblicas de um jeito singular, cativante e emocionante! Foi a narração de histórias, feita em sala de aula por um professor de ensino religioso, que despertou em mim uma curiosidade indescritível por conhecer mais sobre a Bíblia. Além disso, esse professor solicitou a leitura de dois livros que foram meu primeiro contato com a ficção cristã: A Canção de Eva e Projeto Sunlight, ambos de June Strong. Tive o privilégio de me deparar com pessoas incríveis na Educação Adventista, desde monitores, servidores administrativos, educadores e pastores. Creio que cada um desses profissionais teve alguma parte na inspiração para textos que escrevi e que um dia ainda escreverei. Mas esse professor de ensino religioso teve (e ainda tem) um papel especial na maneira que eu escrevo. Sempre que penso numa história, eu faço a seguinte pergunta: “como o Pastor Wanderson Paiva (este é o nome dele) contaria essa história para uma sala cheia de alunos?” É a partir dessa pergunta que começo a organizar meu texto!

EDUCAÇÃO ADVENTISTA:  Quais suas referências nesse caminho da escrita?

Denis Cruz: Eu leio muito e leio de tudo. Considero a leitura uma etapa essencial para quem deseja escrever, pois é nesse momento que eu procuro compreender não apenas o texto, mas as técnicas utilizadas pelo escritor. Assim, eu tenho muitas referências de leitura, tanto no campo de conteúdo filosófico (que são, basicamente, as ideias contidas nos textos), como nos aspectos técnicos e estéticos da escrita.

EDUCAÇÃO ADVENTISTA:  Quais os maiores desafios de escrever para juvenis e adolescentes?

Denis Cruz: Eu já passei dos 40 anos, portanto, faz mais de 25 anos que não sou um juvenil ou um adolescente. Tendo isso em mente, sei que a realidade da minha juventude foi bem diferente daquela que os adolescentes vivem hoje. Este é o primeiro desafio. Não sou juvenil e é necessário saber o que eles precisam e querem ler. É vital que meus textos contenham algo que seja relevante e interessante para eles HOJE! Esta é uma parte complexa e desafiadora da escrita infanto-juvenil e, para se ter sucesso nesse aspecto, é necessário estar sempre atualizado e sensível aos conflitos e desafios de cada geração. O segundo desafio é escrever sobre pautas complexas de uma forma atrativa e agradável para a faixa etária a que se destina. Assim, é possível resumir que os desafios estão no conteúdo (que precisa ser relevante) e na forma da escrita (que precisa ser acessível e cativante).

EDUCAÇÃO ADVENTISTA: Como você avalia o papel do livro e da escola na formação de novos escritores?

Denis Cruz: As vezes eu me pergunto: como uma pessoa pode viver sem conhecer as coisas que são escritas e as histórias que são contadas nos livros? Sinceramente, creio que não há um escritor onde não tenha existido um ávido leitor, pois a escrita é justamente um reflexo, uma continuidade de tudo aquilo que lemos anteriormente. O texto de um escritor sempre remete a algum – ou a alguns – pré- textos que ele leu em algum momento da vida. Assim, se alguém deseja escrever, leia! E leia muito! São os livros que irão criar um conjunto de ideias que ecoarão nos textos dos novos escritores. E, adivinha, onde é o melhor ambiente para que o aluno tenha acesso e conheça livros incríveis? Eu respondo: na escola!

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