Nossa história

Conheça a história da rede educacional adventista no Brasil, que teve início em 1896

O primeiro dia de aula, a gente nunca esquece! E 1º de julho de 1896 não foi diferente. Nessa data, o Colégio Internacional de Curitiba abria as portas, não de apenas uma nova escola, mas da primeira unidade do que hoje chamamos Rede Educacional Adventista no Brasil. Situada na rua Paula Gomes, 290, em uma casa de janelas grandes, próxima ao parque Passeio Público, de residências da elite e da biblioteca municipal, no centro de Curitiba, aquela instituição seria o pontapé inicial para um sistema educacional que hoje está presente em todo o país.

Mas essa história começa com um número pequeno de pioneiros. O Colégio Internacional teve Guilherme Stein Júnior como seu primeiro diretor, nada mais nada menos do que o primeiro adventista batizado em território nacional. Ele, que se mudou de Piracicaba, no interior paulista, para Curitiba com o objetivo de dirigir a instituição, havia estudado em um colégio que também possuía o título “internacional”. Esse pode ter sido o motivo para a primeira escola adventista carregar esse nome durante os anos iniciais. Porém, outra explicação seria o fato de aquela escola pioneira oferecer o ensino bilíngue, em português e alemão, o que foi um grande atrativo para a população curitibana.

Tempos de Pioneirismo

O autor da obra Colégio Internacional de Curitiba: uma história de fé e pioneirismo, Renato Gross, livro que conta a história do Colégio Internacional, aventa a possibilidade de esse ter sido um dos colégios com a metodologia de ensino mais avançada do país naquela época. “Na virada do século, uma criança levava, em média, dois anos para ser alfabetizada. Porém, o Colégio Internacional adotou, nesse período, a metodologia do professor Felisberto de Carvalho, método fonético revolucionário que em poucos meses ajudava a criança a ler”, explica Gross, doutor em Educação pela Unicamp.

A escola, que prezava por uma exímia educação, era, também, pautada pela confessionalidade adventista. Posicionamento filosófico que lhe rendeu alguns desafios. Para se adequar à legislação educacional do período, por exemplo, que exigia que as escolas funcionassem aos sábados, o Colégio Internacional ministrava apenas as aulas de religião nesse dia, no formato do funcionamento da Escola Sabatina das igrejas adventistas. Desse modo, não apenas os alunos participavam, mas as famílias deles também.E outro fato curioso sobre esse período de pioneirismo é que as escolas nasceram com as congregações. A mensagem adventista chegou à capital paranaense em janeiro de 1896 e seis meses depois a primeira escola dessa confissão estava sendo aberta. Diferentemente dos Estados Unidos, em que a primeira escola foi fundada cerca de dez anos após a organização da denominação, em 1863, no Brasil, “até meados da década de 1940, os registros apontam que já existiam 16% mais escolas do que igrejas adventistas no país”, revela Douglas Menslin, historiador da educação adventista e doutor pela PUC-PR.

O início de um sonho

Em julho de 1896, o Colégio Internacional de Curitiba começou atendendo famílias de imigrantes que chegavam à região Sul do Brasil. Essa instituição foi singular não somente por ser a primeira, mas também por não seguir o padrão das unidades seguintes, que nasceram anexas às igrejas, num modelo paroquial. Num prédio independente, a escola em pouco tempo cresce tanto que logo precisa ser transferida da rua Paula Gomes. “Muito rapidamente, ela se tornou um sucesso retumbante. O colégio chegou a ter cerca de 400 alunos, sendo que nem meia dúzia deles eram adventistas”, destaca Renato Gross.

Depois daquele primeiro endereço, a escola funcionou em mais duas instalações: um sobrado na Avenida Cândido de Abreu, e no mais imponente prédio de Curitiba daquela época: o palacete Wolf, onde hoje funciona o shopping Mueller, no centro da cidade.

O início bem-sucedido fez a liderança da denominação olhar com mais seriedade para essa frente missionária que se abria. Entendeu-se que aquela escola deveria oferecer serviços educacionais, de acordo com os princípios adventistas, especialmente para os imigrantes que chegavam à Curitiba. “Esse foi o embrião da evangelização por meio das escolas, estratégia que não se restringiu ao Paraná”, enfatiza Menslin.

Nesse período, o professor Guilherme Stein Júnior se mudou para Gaspar Alto (SC), berço da primeira congregação adventista do Brasil, para ali fundar uma escola de formação de missionários. Diretamente da Alemanha foi para Curitiba o professor Paulo Kramer, farmacêutico de formação. Ele traria grandes inovações para o Colégio Internacional. “Microscópios, pranchas, mapas, sólidos geométricos. A escola possuía tudo isso!”, enfatiza Renato Gross, destacando que eram recursos pedagógicos dos mais modernos do país.

No entanto, apesar do sucesso, de forma súbita, a escola foi fechada em 1904, e só voltou a abrir as portas em 1928, já no cruzamento das avenidas Saldanha Marinho e Brigadeiro. “Ali funcionava a Igreja Central de Curitiba e eu frequentei a escola nesse endereço”, comenta Lígia Oliveira, esposa do pastor Ronaldo de Oliveira, que foi pastor na região e atuou em vários níveis administrativos da igreja. Por esse mesmo colégio, passaram quatro gerações dessa família. “Não cheguei a estudar nessa escola, mas tive o privilégio de ser professora de inglês nela. Meus dois filhos estudaram lá e estávamos presentes quando a escola deixou de funcionar no mesmo prédio da igreja e se mudou para o endereço no qual funciona até hoje”, conta a professora Vera Lúcia Dorl, filha de Lígia.

Quem participou de forma marcante dessa transição foi a administradora Luciene Oliveira Dorl, filha de Vera Lúcia e neta de Lígia. “Quando o Colégio Adventista do Bom Retiro ficou pronto, foi muita alegria! A escola era enorme e linda, e continua sendo assim. Hoje, tenho a alegria de ter minhas duas filhas gêmeas estudando na mesma escola que estudei, minha mãe deu aulas e que meus avós ajudaram a construir”.

Herdeiro do legado do Colégio Internacional, hoje o Colégio Adventista do Bom Retiro conta com mais de 1.400 alunos que, todos os dias, continuam sendo influenciados pelos mesmos valores que inspiraram a fundação daquela unidade escolar em 1896. “Sou professora dessa escola há mais de 20 anos, e essa é a escola do meu coração. Aqui tenho o respaldo amplo de uma instituição que acredita nos mesmos valores em que acredito. E não existe dinheiro no mundo que pague a liberdade que tenho nesse lugar de poder falar sobre Cristo para meus alunos”, ressalta Janice Santos, professora do primeiro ano do Ensino Fundamental.

Ao longo desses anos, milhares de histórias se cruzaram e se fundiram com a da educação adventista. A semente plantada no Sul do país foi espalhada e frutificou em todas as regiões do país. No infográfico abaixo, você tem um resumo de como surgiu a primeira unidade escolar das demais sete Uniões brasileiras, regiões administrativas da Igreja Adventista.